domingo, 26 de abril de 2020

O timaço do rival que quase roubou meu coração:

Foto: Matheus Gevaerd.
Você leu AQUI que este que escreve escolheu ser torcedor do Flamengo por causa do Zico. Fã primeiro do jogador, por consequência do clube.

Natural que aos dez anos, quando criança era realmente ingênua nesta idade, a paixão sofresse um abalo pela saída do ídolo máximo para a Udinese. Uma traição na visão do menino e avalizada por muita gente adulta.

E foi justamente neste período que um rival histórico dominou o cenário regional, em tempos que os estaduais valiam demais, e ainda conquistou um título brasileiro: o Fluminense tricampeão carioca de 1983 a 1985, com a conquista nacional em 1984 para marcar época definitivamente.

Uma equipe formada meio no "cata-cata", na base do "bom, bonito e barato". Até pelos problemas financeiros de um clube que não chegava às finais do Carioca desde o título, em 1980. Já no Brasileiro, a última grande campanha tinha cheiro de frustração, com a "máquina tricolor" sendo eliminada na semifinal por um Corinthians bem mais limitado. A inesquecível "invasão" do Maracanã em 1976.

Em 1983, a base era formada pelo goleiro Paulo Vítor (no Flu desde 1981), o lateral direito Aldo, contratado ao Paysandu no ano anterior, o zagueiro Ricardo (Gomes), formado na base do clube e Delei, o titular remanescente da última conquista. Do Internacional chegaram os relegados Branco e Jandir, depois Tato. Do Coritiba, o volante Leomir, ainda em 1982. Do América, o zagueiro Duílio. O maior investimento foi na dupla de ataque: Washington e Assis, que venceram o Paranaense pelo Atlético-PR e aterrorizaram a defesa do Flamengo na semifinal do Brasileiro daquele ano, mesmo com eliminação.

O treinador Cláudio Garcia comandou a equipe no título da Taça Guanabara e depois partiu para o Flamengo, que seria o campeão da Taça Rio. No triangular final com o Bangu, time de melhor campanha nos dois turnos, o título veio mesmo sem grande futebol do time agora comandado por José Luís Carboni, com o histórico gol de Assis, no minuto derradeiro do Fla-Flu. O último sofrido na carreira do goleiro Raul Plasmann.

Uma conquista no melhor estilo "timinho" que consagrara o tricolor nos anos 1950. Sem favoritismo, com placares magros, mas levando o troféu para as Laranjeiras. No entanto, para vencer o Brasileiro era preciso pensar grande.

Faltava o craque e o grande treinador. Chegaram o paraguaio Romerito do Cosmos e Carlos Alberto Parreira, depois da primeira experiência não tão bem sucedida na seleção brasileira no ano anterior. Para dar o salto de qualidade na melhor versão daquela equipe que virou timaço.

Armado em uma espécie de 4-4-1-1, nas palavras do próprio Parreira em entrevista a este jornalista. Deixando o corredor direito livre para a vitalidade de Aldo e os deslocamentos de Washington, sempre municiados por Delei. Do lado oposto, Romerito se juntava à ala esquerda formada por Branco e Tato ou Paulinho, setor ofensivo mais forte do time. Assis trabalhava com os meio-campistas, caía pelos flancos e se juntava a Washington, principalmente no jogo aéreo. O "Casal 20", apelido inspirado em famosa série de TV à época.

Sem a bola, todos colaboravam na recomposição e Jandir era o volante marcador que protegia a zaga formada por Duílio e Ricardo Gomes. Assim o time embalou a partir das quartas de final. Levou dois gols fora de casa do Coritiba no empate por 2 a 2 na ida e depois Paulo Vitor não sofreu mais gols. 5 a 0 nos paranaenses para se firmar como grande força.

Mas não favorito contra um Corinthians embalado por eliminar o Flamengo com goleada em casa por 4 a 1 e sonhando com o então inédito título nacional na despedida de Sócrates, que partiria para a Fiorentina. No Morumbi, porém, o Flu de Parreira protagonizou a grande atuação coletiva de todo aquele período: 2 a 0, calando o estádio lotado. Gols de Assis e Tato, mais outras oportunidades em transições ofensivas demolidoras e sem conceder nenhuma chance clara à equipe paulista. Domínio absoluto consolidado com empate sem gols no Maracanã.

Na decisão carioca, o gol de Romerito e outra grande atuação de defesa-contragolpe superaram o ofensivo Vasco comandado por Edu Coimbra, irmão de Zico, e que teve os dois artilheiros daquela edição: Roberto Dinamite e Arturzinho. Mas não havia equipe mais equilibrada.

 4-4-1-1 armado por Parreira que era sólido defensivamente com todos colaborando e veloz nas transições ofensivas, abrindo o corredor direito para Aldo e reunindo Branco, Romerito, Tato e às vezes até Assis do lado oposto para envolver os adversários (Tactical Pad).
Time que esbanjaria no segundo semestre vencendo novamente o estadual, com o motivador Carlos Alberto Torres mantendo a proposta de jogo e sendo campeão mesmo sem Ricardo, Branco, Jandir e Delei, substituídos por Vica, Renato, Leomir e Renê. Dentro de um elenco curto, porém homogêneo e com incrível capacidade competitiva. De novo superando o Flamengo com gol de Assis.

Supremacia ratificada no ano seguinte ao vencer novamente a Taça Guanabara. E fazer deste que escreve um torcedor do Fluminense por duas semanas. Cansado de tantos vexames rubro-negros – incluindo uma eliminação no Brasileiro para o Brasil de Pelotas naquele mesmo ano, com Zico já de volta ao clube – e desolado pela grave lesão do Galinho na entrada criminosa de Márcio Nunes, do Bangu.

É óbvio que não duraria muito. Afinal, paixão clubística não tem explicação. Mesmo com o tri do Flu na vitória de virada sobre o Bangu por 2 a 1. Gols de Romerito e Paulinho, este em linda cobrança de falta, que consagrariam a equipe comandada por Nelsinho Rosa em mais uma conquista histórica. Fiquei feliz porque o melhor havia vencido, mesmo beneficiado por erro grotesco do árbitro José Roberto Wright ao não marcar um pênalti claríssimo de Vica em Cláudio Adão no final do jogo.

O amor pelo futebol, especialmente o do Rio de Janeiro, fez o menino de 11 anos em 1984 se arrepiar no Maracanã com o hino do Botafogo ao acompanhar o irmão cruzmaltino em um clássico contra o Vasco. O grande rival do Flamengo que teve a minha torcida em 1987, no "Clássico dos Milhões" que confirmou o título da Taça Guanabara para o time comandado por Joel Santana que tinha Dinamite, Romário, Tita, Geovani e Dunga. Sim, eu fui para a arquibancada de quem estava jogando mais bola. Mas esta é uma história para outro post.

Este homenageia um timaço vencedor. Para mim a verdadeira "Máquina Tricolor". Do lindo uniforme verde, branco e grená, além da bandeira levada ao gramado em cada jogo. Uma mística que encantava e, combinada com bom futebol, quase roubou meu coração há 35 anos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL - Blog André Rocha
 

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