quarta-feira, 29 de abril de 2020

Futebol brasileiro ainda é mais equilibrado do que europeu, mas está cada vez mais concentrado em poucos clubes, indica estudo:

Brasileirão 2019 — Foto: Infografia

Rodolfo Ribeiro, consultor e professor de administração, aplicou um cálculo próprio do ambiente empresarial para medir a competitividade nas principais competições esportivas do mundo.

 
"O Brasileirão é o mais difícil do mundo".

De tempos em tempos, esta afirmação reaparece em versões diferentes. Uns projetam que mais de dez clubes têm chance de conquistar o título nacional, outros lembram que a alternância entre campeões é muito mais frequente do que em ligas europeias. E, bem, é verdade.
 
O Campeonato Brasileiro ainda é o mais equilibrado do mundo – pelo menos na comparação com as principais ligas europeias, nem tanto quanto incluídas as ligas americanas. Mas é também verdade que este status de mais competitivo tem sido cada vez mais ameaçado.
 
Rodolfo Ribeiro se debruçou sobre tabelas de competições para analisá-las com uma métrica usada no mundo empresarial. Ele é professor de administração, doutor pela FEA-USP e consultor da empresa que fundou recentemente, chamada Stadiumetric, para atender clientes no esporte.
 
O método, por sua vez, é o Índice Herfindahl-Hirschman. Você pode chamá-lo apenas de Herfindahl, ou só pela sigla HHI. Tanto faz. O importante é saber que este cálculo foi formulado por economistas para determinar a competitividade entre empresas em um mercado.
 
Geralmente, o HHI considera o "market share" das empresas – isto é, o percentual de clientes que elas detêm sobre determinado mercado. Se todas as pessoas consomem um produto ou um serviço em apenas uma companhia, há um monopólio. Se o mercado é dividido entre duas empresas, com 50% para cada, existe um duopólio. E a concentração vai diminuindo à medida em que há mais firmas relevantes.
No futebol, o professor e consultor Rodolfo Ribeiro aplicou o HHI sobre os títulos conquistados por clubes ao longo das décadas. Caso um campeonato tivesse sido vencido todo santo ano pela mesma agremiação, haveria um monopólio. Alguém falou em Bayern de Munique ou Juventus? O título do Campeonato Alemão ou do Campeonato Italiano, neste exercício, corresponde ao market share.

Aos resultados do estudo...


No primeiro exercício, Rodolfo Ribeiro calculou o HHI de dez competições esportivas no período que compreende de 2000 a 2019.
 
Para interpretar os resultados, que variam entre zero e um, você só precisa considerar a seguinte regra: quanto mais próximo de zero, mais competitiva é a liga. E o contrário disso naturalmente está correto: quanto mais próximo de um, mais concentrada e desigual.
 
A competitividade das ligas esportivas entre 2000-2019
Apenas hóquei e beisebol americanos foram mais equilibrados do que o futebol brasileiro no período
Fonte: Rodolfo Ribeiro
 
Eis que o Campeonato Brasileiro só não é mesmo o torneio mais difícil do planeta porque existem o hóquei e o beisebol nos Estados Unidos. NHL e MLB, respectivamente, são as ligas com maior alternância entre os campeões nas duas décadas avaliadas pelo professor.
 
NFL (futebol americano) e NBA (basquete) vêm a seguir entre as competições mais equilibradas. Não por acaso. Essas ligas dispõem de mecanismos para estimular o equilíbrio, como tetos salariais coletivos e individuais, além da distribuição de atletas vindos de universidades por meio do sistema de draft, em que as equipes derrotadas têm privilégio.
– As ligas modelo em termos de descentralização têm políticas de regulação bastante claras para fomentar a competitividade. Um dos mecanismos eficientes é o teto salarial. Você limita a principal despesa relacionada a desempenho da equipe– diz Rodolfo Ribeiro.

O Campeonato Francês aparece como menos desequilibrado entre os europeus – beneficiado pelo recorte temporal, que abrange o período anterior à chegada do zilionário Paris Saint-Germain. O Campeonato Alemão, dominado há muito pelo Bayern de Munique, é o mais desigual na distribuição dos títulos entre clubes nessas duas décadas.

Outro modo de avaliar o índice


Ainda recorrendo às práticas de mercados convencionais para medir competitividade esportiva, podemos distinguir os resultados apresentados por meio do HHI nas seguintes categorias.
  • HHI entre 0 e 0,15: setor não concentrado
  • HHI entre 0,15 e 0,25: concentração moderada
  • HHI acima de 0,25: concentração elevada

Desta maneira, apenas o hóquei americano poderia ser considerado um setor com ampla concorrência entre as suas franquias. O Brasileirão teria uma concentração moderada. Enquanto todas as ligas europeias, a partir da francesa, demonstrariam gradativamente seus níveis de desequilíbrio ao considerar a alternância entre os campeões.

Tudo tranquilo para o Brasil, então?


Na verdade, não. A pedido do GloboEsporte.com, Rodolfo Ribeiro aplicou o HHI em um longo retrospecto do Campeonato Brasileiro.
 
Desta vez, com um critério ligeiramente diferente do anterior. Em vez de considerar apenas os campeões nacionais em cada temporada, o professor incluiu clubes que alcançaram semifinais em mata-mata (e derivados) ou ficaram entre 1º e 4º lugares nos pontos corridos.
O (des)equilíbrio no Brasileirão ao longo das décadas
 
Quanto mais próximo de zero, mais competitivo. Índice mostra que competição tem diminuído no país
Fonte: Rodolfo Ribeiro
O índice mostra que o futebol brasileiro tem passado por um processo de concentração esportiva. Se nos anos 1980 as quatro melhores colocações do campeonato nacional estiveram divididas entre mais clubes – inclusive com títulos de Coritiba, Sport e Bahia –, o índice tem aumentado constantemente com o passar das décadas.
 
Se considerados apenas os últimos cinco anos, então, o HHI brasileiro dispara. Uma explicação necessária: não tem problema comparar apenas cinco anos contra décadas inteiras, pois o índice anula as discrepâncias nesse sentido, de acordo com o responsável pelo estudo. E uma conclusão inevitável: estamos ficando mais desiguais.
– A gente vê essa concentração como consequência de uma consolidação de arrecadação dos clubes, pois ela vai concentrando, formando um grupo que dificilmente tem a sua hegemonia quebrada, e isso vai se refletir, claro, na competição. O acesso às principais posições fica restrito a quem tem orçamento para bancar. Se há preocupação para quem gosta de ver uma coisa equilibrada? Acredito que há – conclui Rodolfo Ribeiro.
DécadaClubes diferentes entre 1º e 4º

1970 a 1979
15
1980 a 198919
1990 a 199918
2000 a 200914
2010 a 201910
2015 a 20198
Caso os índices não tenham ficado perfeitamente claros, eis uma última tabela. Nos anos 1980, as quatro colocações mais altas na tabela foram preenchidas por 19 clubes diferentes. O América-RJ foi semifinalista do Brasileirão de 1986, e o Guarani jogou a decisão. Nos anos 2010, com apenas dez clubes, a diversidade caiu praticamente pela metade.
Acende um sinal amarelo para o futebol brasileiro – caso os responsáveis por sua administração queiram manter o rótulo de campeonato nacional mais difícil do mundo nas próximas décadas. Para uma quantidade considerável de clubes pequenos e médios, que no passado tinham alguma força, equilíbrio e competitividade são palavras que já sumiram.
 
@rodrigocapelo  Globo Esporte

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