quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Má campanha da seleção sub-20 não é fracasso dos garotos, sim da mentalidade do futebol brasileiro - mas há luz no fim do túnel

Houve um tempo em que o futebol brasileiro só precisava de uma gestão dentro e fora de campo que não atrapalhasse o talento natural e intuitivo e mantivesse nossos craques focados apenas no desempenho da seleção ou dos clubes.

Ficou no passado. Como esse blog já ressaltou tantas vezes, o esporte mudou muito nos últimos dez anos. Pep Guardiola acelerou no Barcelona alguns processos que já estavam em curso na transformação do jogo e seu sucesso trouxe os demais a reboque. O futebol ficou mais compacto, intenso. Complexo e coletivo.





Um duro golpe para quem sempre achou que tudo se resolvia nos lampejos do talento. Mais doído ainda é perceber que mesmo depois de nossa maior derrota a entidade soberana do futebol cinco vezes campeão mundial não despertou.

A trajetória da seleção sub-20 no Sul-Americano é um fiel retrato do atraso na mentalidade da CBF. Alexandre Gallo foi para a disputa no Uruguai pressionado por resultados e por uma disputa política, de poder. O posto de treinador para a Olimpíada em casa é o alvo.

Em 2013, Gallo foi escolhido para técnico e coordenador das divisões de base pelo perfil disciplinador. "Linha dura" para enquadrar os garotos "mimados, que só querem saber de selfie e vídeo game". Um senso comum que parece querer enfiar os jovens em uma espécie de bolha do passado. Sem internet e distrações típicas da geração. Como se nos anos 1960, 70 ou 80 todos os meninos vingassem e virassem craques.

É injusto dizer que Gallo não tem conteúdo. Em entrevistas, fica claro que o técnico está atento aos conceitos de compactação, valorização da posse de bola, marcação pressionante...Como observador de Felipão, viu a necessidade de um meio-campo mais povoado para a semifinal contra a Alemanha.

A grande questão é que o foco, mais uma vez, não foi o jogo. Para complicar, a disputa no Uruguai com obrigação de título pelos insucessos recentes da sub-20 resgatou o velho discurso que atrapalha tanto os clubes brasileiros na Libertadores, mesmo com o domínio nos últimos dez anos: "É guerra!"

Para as batalhas, Gallo convocou uma seleção investindo em estatura, força e velocidade. Pior: um treinador pressionado liderou grupo nitidamente sem preparo emocional para a disputa.

Sem condições de se concentrar no futebol, o Brasil jogou pouco. Coletivamente, pois havia bons nomes: Thalles, Kenedy, Marcos Guilherme, Nathan, Marlon, Gabriel, Malcom. Principalmente Gerson, do Fluminense. 17 anos e já é o meio-campista que queremos para o futebol brasileiro: jogando de área a área, pensando o jogo. Armando e aparecendo na área para finalizar.

Não havia como desequilibrar sem um plano de jogo que aproveitasse da melhor maneira todo esse potencial. Mais uma vez, fatores externos influenciaram no campo. A política, para deixar claro. Restou, ao menos, a quarta vaga do continente no Mundial da categoria na Nova Zelândia.

Argentina, Uruguai e Colômbia, que priorizaram o jogo, foram superiores em desempenho e resultado. Nada espetacular ou exemplo a ser seguido. Basta ver que o técnico campeão foi Humberto Grondona - o sobrenome lembra alguma coisa?

Política faz parte da vida cotidiana, norteia as relações humanas em qualquer área de atuação. Mas não pode ser o centro do debate e o ponto de partida para as decisões esportivas. Muito menos em categorias de base, que precisam se concentrar na formação do jogador e do homem.

Este que escreve esteve presente na primeira edição em 2015 do Footlink, ciclo de debates realizado no Rio de Janeiro e coordenado por Paulo Angioni e Eduardo Barroca, ambos hoje no Vasco.

O tema do encontro realizado na segunda-feira, dia 9, foi "Categorias de base - integração com o futebol profissional". Os convidados: Paulo Carneiro, ex-presidente do Vitória; Ney Franco, último treinador brasileiro campeão mundial sub-20; Osmar Loss, técnico do Corinthians campeão da Copa SP, e Marcelo Teixeira, coordenador da base do Fluminense.

Infelizmente um compromisso de última hora impediu que o blogueiro ficasse até o final do evento. Porém, o que ouviu nas apresentações dos componentes da mesa foi o suficiente para observar que o maior obstáculo para a integração da base com o profissional e, consequentemente, a melhor transição do garoto para os profissionais é a vontade política.

Paulo Carneiro deixou bem claro que o sucesso do Vitória vice-campeão brasileiro de 1993 com um time formado em casa foi por conta dos problemas financeiros do clube que obrigaram a usar os jovens formados na base. A partir disso houve um investimento em captação e a criação de uma cultura que rendeu frutos nos anos seguintes.

Por outro lado, o relato de Ney Franco sobre a postura de dirigentes de alguns clubes em que trabalhou foi assustador: alguns foram bem diretos ao pedir que nem olhassem para a base, pois "não havia nada lá que se aproveitasse". Investiam por pura obrigação estatutária.

Osmar Loss ressaltou as dificuldades na montagem de um calendário semelhante para todas as divisões que esbarra nas federações e outros interesses, inclusive da TV.

Além do propósito de debater o tema pela segunda vez em três meses, já que houve um outro encontro em novembro do ano passado também sobre base, foi um alento ver a apresentação do projeto, já em andamento, de Marcelo Teixeira para a base do Flu:

Integração dos profissionais da base e da equipe principal em treinos e jogos, incentivando o acesso dos meninos aos adultos já formados. Alinhamento de filosofia com troca de experiências.

Ideias simples, mas que normalmente esbarram...na política. Porque o técnico do time principal acha que o colega da base está de olho no seu cargo. Ou o dirigente nem se preocupa com isso porque com três derrotas sabe que será pressionado a demitir o treinador e começar tudo de novo.

Um risco que, infelizmente, existe também no Fluminense que de 1999 a 2014 aceitou a subjugação de uma patrocinadora e agora tenta reaprender a caminhar sozinho, com novas parcerias. Mas em terra arrasada, qualquer semente é esperança.

Enquanto isso, na CBF o tema é a fritura de Gallo. O resultado esportivo pesando no jogo político. Terreno que Marin, Del Nero e sua cúpula conhecem bem.

Mas o futebol brasileiro clama por gestão dentro de campo, com entendimento do jogo que só evolui. Para que mais uma geração de bons valores não se perca no pântano dos temas periféricos que em nada ajudam a elevar o nível do debate. O nosso 7 a 1 cotidiano. Goleados na mentalidade. Desta vez respingou nos garotos na sub-20. Quem será a próxima vítima?

Há soluções e gente disposta a mudar o cenário. Basta dar voz e oportunidades.

Fonte: Blog André Rocha

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