terça-feira, 2 de junho de 2015

O anticorintiano

Jogo duro, complicado contra o campeão europeu. Até que vem o gol de Paolo Guerrero. Cássio volta a fazer milagres. O Corinthians suporta a pressão do Chelsea e ganha o Mundial de Clubes da Fifa para orgulho de milhares de alvinegros no Japão e milhões espalhados pelo Brasil e pelo mundo.
Era a glória. Em dezembro de 2012, o centenário clube finalmente alcançara os títulos que há tanto perseguia. Orgulhosa, sua torcida imaginava o início de uma Era ainda mais dourada. Quantas vezes aquela emoção se repetiria? Pois não se duvidava que era só o começo. Havia muito mais por vir.
Paralelamente, outro sonho ganhava forma, o do estádio. Pouco a pouco obstáculos eram removidos, dos tubos da Petrobras enterrados no solo de Itaquera ao generoso financiamento do BNDES destinado às "Arenas" da Copa do Mundo. Sim, a casa do Corinthians estava no Mundial 2014.
Foi saboroso passar a perna no rival São Paulo, cujo presidente de então sequer imaginava ser possível o Morumbi ausente do certame. Principalmente dando lugar a algo que sempre foi motivo de troça para os tricolores. Afinal, acreditavam os outrora "soberanos", esse estádio "jamais existiria".
Logo após o triunfal retorno do Oriente com o sonhado troféu, o anúncio: dono de milionária quota de televisão, com estupendas arrecadações no velho Pacaembu, o Corinthians decidira investir pesado. Assim, Alexandre Pato desembarcou no Parque São Jorge por inacreditáveis € 15 milhões.
Quem seria capaz de deter esse clube? Títulos não faltavam, dinheiro também não, a torcida sempre foi grande e curiosas pesquisas davam a sensação de que apenas corintianos nasciam na face da Terra. Não havia limites para o sucesso daquele clube. Em pouco tempo, acreditavam, seria imbatível.




A carona no sucesso era boa. Personalidades manifestavam publicamente seu corintianismo, os marqueteiros pautavam a imprensa a ponto de causar furor a chegada de um perna-de-pau chinês. Diziam que ele abriria o mercado mais populoso do planeta para Corinthians. Não abriu coisa alguma, mas e daí?
Livros, filmes, documentários e especiais de televisão sobre o clube mais popular de São Paulo pipocavam a todo instante. Emissoras de TV montavam links com repórteres ao vivo no CT, na Fazendinha ou em Itaquera mesmo quando nada havia a noticiar. Tudo pela afagar a torcida e atrair a audiência do campeão.
Raras vozes se levantavam contra os devaneios que se apresentavam e o torcedor, em sua maioria, se deixava cegar pela paixão. O sintomas evidentes da megalomania eram ignorados e aquele que se atrevesse a questionar ou criticar algo ligado ao clube era instantaneamente rotulado de "anti".
Sim, "anti". Corruptela para "anticorintiano", muleta fácil capaz de tapar olhos alvinegros diante dos equívocos cometidos. A perfeita desculpa que tentava transformar o clube em instituição isenta de críticas. Na realidade espécie de carta branca para alguns homens errarem sem questionamentos.
Pato fracassou, mas quem lá atras alertava para os riscos da contratação, pelos valores envolvidos e perfil do jogador, era "anti". A temporada 2013 não foi boa, Tite virou quase culpado e não renovar seu contrato foi a senha para acalmar o torcedor, como se sem ele tudo automaticamente fosse melhorar.
Quem viu contradição e uma pitada de hipocrisia no adeus do vitorioso treinador no Pacaembu ao final daquele ano era apenas mais um "anti". Sim, pois Mano Menezes estava de volta e com ele a locomotiva voltaria aos trilhos. Uma vaga na Libertadores foi o que de melhor obteve num monótono 2014.
Veio 2015 e quem reapareceria? Tite! Seu ano sabático era o sinal indiscutível de que o técnico em nova versão era melhor do que antes, melhor do que nunca. Sim, senhoras e senhores, ele se reinventara outra vez. Nem era preciso ver o time em campo para saber. E se alguém duvidasse, ora bolas, era "anti", né?
O elenco seguia caro e o clube ainda desembolsava milhões de reais com jogadores emprestados a outros clubes. Entre eles Pato, que Tite não encontrara ao retornar. Emprestado ao São Paulo, o atacante seguia sem convencer e negociá-lo para recuperar parte do prejuízo parecia quase impossível.
A temporada começava e já se percebia que as finanças pioravam. Antes de encerrar o mandato, o ex-presidente sinalizara que a situação econômica era terrível. Mesmo assim, Vágner Love, dispensado por um clube chinês, foi contratado, quase ao mesmo tempo Cristian, que não jogava peleja oficial há oito meses.
Evidentemente houve quem não entendesse tais "reforços". Como assim pagar tanto por atletas fadados ao banco de reservas? Se ainda não fossem tão caros... Poucos corintianos deram ouvidos, afinal, a advertência partia dos de sempre, os que, repetiam tais fanáticos, "detestam o Corinthians". Os "anti".
O grupo tinha qualidade e com Tite de volta, motivado e, acreditava-se, dono de novo repertório, faria bonito. Mesmo assim, Conca e Dudu entraram nos planos e por semanas as manchetes davam conta do desejo alvinegro de ter os dois. Se alguém perguntava com que dinheiro, o questionador era "anti".
Alguns bons jogos catapultaram à condição de equipe "de Champions League". Levado pela onda de delírio que o cercava, Tite confessou contemplar a "cria" à beira da cancha nos 4 a 0 sobre o Danúbio. Quem se atreveu lembrar que o então trôpego São Paulo batera os uruguaios pelo mesmo placar, óbvio, era "anti".
Enquanto isso a remuneração dos jogadores atrasava e quando o fato se tornou de conhecimento geral, não faltou quem minimizasse, inclusive segmentos da mídia. Como o time vencia, os atletas não entravam em rota de colisão com o discurso de que o problema financeiro em nada atrapalhava.
Como assim? Salários longe de estarem em dia, mas tudo bem? Ah, evidentemente quem não se convencia de tão risível versão oficial era apenas mais um "anti". Para que dar ouvidos a quem "está contra o Corinthians"? Afinal, o "poderoso Timão" era inabalável, nem a falta de grana o deteria.
Mas crescia a preocupação com o pagamento do estádio. Cada real deixado pela Fiel em rendas milionárias seguia para o fundo destinado à quitação da gigantesca dívida. Como fechar tal conta? Culpa dos outros, da prefeitura, das CIDs cedidas pelo generoso ex-alcaide de São Paulo. Culpa dos "anti".
Até que as coisas começaram a dar errado. Primeiro a eliminação em casa no Campeonato Paulista para o Palmeiras, nos pênaltis. E daí? Importava a Libertadores, pela qual o São Paulo finalmente derrotaria o Corinthians, no Morumbi. Até que o Guaraní paraguaio e encerrou a invencibilidade em Itaquera.
O time comparado a esquadrões da história do futebol brasileiro nos 4 a 0 sobre o Danúbio estava fora da competição internacional. Não demoraram a avisar que Guerrero, o ídolo, sairia. Apesar de meses sem receber integralmente do clube, houve torcedor manipulável culpando o peruano.
Grupos de corintianos se manifestaram e o elenco sem receber direitos de imagem há até dez meses, como revelou Elias, foi chamado de "mercenário". Tamanha bizarrice dava espaço para suspeitas do tipo, "essas pessoas não sabem qual o real significado da palavra". Pois é. como assim "mercenários"?
Tite veria o elenco enfraquecer. No domingo do jogo com o Fluminense, dirigentes alvinegros se reuniram no Rio com os do Flamengo. Na mesa, nomes diversos. Se desenhava a transferência de Guerrero. Houve quem o responsabilizasse, mesmo sem receber há meses. O ex-astro virou "anti"?!
Rescisão comunicada, não demorou a ser feito o anúncio. Após a Copa América, Guerrero se vestirá de preto e vermelho e custará menos que Love e Cristian juntos. Elias só não voltou ao Flamengo porque não quis levar a "culpa" pela transferência, como aconteceu com o camisa 9 na visão de alguns fanáticos.
Corintiano de carteirinha, o meia não aceitou o papel de vilão, afinal, se deixar o clube será devido à falta de dinheiro. Ele não pediu para sair. Elias não suportaria ser chamado de "anti", e reagiu antes que o rótulo fosse colado em sua testa como artimanha para não por holofotes sobre os responsáveis por um adeus.
A crise financeira chegou forte. E a técnica passou a ameaçar neste novo e desolador cenário. Houve quem lembrasse que o projeto inicial do estádio previa obra mais simples, orçada inicialmente em R$ 400 milhões. Segundo a Folha de S. Paulo, o valor quase triplicou. Será que o autor da matéria é "anti"?
Passar a perna no rival valeu a pena? Era melhor o estádio não ter recebido jogos da Copa, como o do Palmeiras? Até sem a linha de crédito do BNDES, sem as CIDs, que o Corinthians não consegue vender, quitar a obra seria mais factível. Mesmo que custasse, digamos, R$ 500 milhões.
Dívidas com jogadores, com empresários de atletas, com bancos, pendências por causa de salários, devido à arena (sem naming rights) de Itaquera, elenco ficando mais fraco e perspectivas nada animadoras. O que falta para piorar? Perder em casa para o Palmeiras, desta vez nos 90 minutos? Não falta mais.
Quem são os responsáveis por isso? Não será surpresa se disserem que tudo de ruim que está acontecendo e poderá ocorrer com o Corinthians é mentira, ilusão, uma farsa. Sim, pode aparecer alguém afirmando que o Timão será campeão do mundo em dezembro outra vez. E a crise, coisa inventada pelos "anti".
Só mesmo nas cabeças de um bando de loucos. Por que aqueles antes apontados como inimigos do Corinthians, que criticavam não o clube, mas as tolices cometidas por quem à frente dele estava, na verdade não eram os "anti". Na prática, anticorintiano mesmo, sem aspas, é quem afunda o clube.
Vejamos se a torcida do Corinthians acorda. Antes (não "anti") que seja tarde



Blog Mauro Cezar Pereira

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