segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Bayern de Munique, o Campeão dos Detalhes:

Getty Images

Um time invicto há 30 jogos oficiais não domina apenas o jogo. Domina também seus detalhes. Aquela pequena coisa que faz diferença no resultado final. Pois foi no detalhe que o Bayern de Munique venceu o PSG e entrou para a história como o primeiro campeão europeu a ter 100% de aproveitamento.

Muita coisa pode assumir a forma desse detalhe. Na maioria das vezes é o gol...em outras, é uma jogada, um posicionamento diferente ou a mestria de um jogador.

Thomas Tuchel sabia muito bem qual minúcia queria explorar: a linha alta do Bayern. O PSG sofreu a mesma pressão que o Barcelona viu, com seis jogadores no adversário, um preparo físico invejável e total atenção para recuperar a bola. Foi exatamente o que aconteceu nos dez primeiros minutos, com o Bayern bem melhor e criando chances roubando a bola bem perto do gol.
 
Pressão alta do Bayern, com os volantes quase na área adversária — Foto: Reprodução/Léo Miranda
 
O outro lado é que apenas quatro jogadores protegiam o campo de defesa. Por isso a estratégia do PSG foi toda voltada a potencializar a velocidade do trio de ataque fazendo eles não voltarem para marcar. Esperavam rentes à defesa do Bayern, com a intenção de receber de Herrera e correr para desorganizar a defesa.
 
Neymar, Mbappé e Di María atuaram bem avançados — Foto: Reprodução/Léo Miranda
 
A estratégia tinha lógica e deu certo no primeiro tempo. Só não resultou em gol, porque se o Bayern teve a bola por mais tempo, foi o PSG que agrediu mais. Três grandes chances que Neuer precisou defender: dois chutes de Mbappé e um de Neymar.
  • Todas as chances do PSG foram criadas ao explorar a linha alta do Bayern
  • Herrera foi fundamental e tinha o papel de dar o passe em profundidade, no espaço para a corrida
  • O lado direito do Bayern sofria demais, com Kimmich atrasado na cobertura

Linha de defesa do Bayern sofreu contra a velocidade do trio — Foto: Reprodução/Léo Miranda

O Bauern chegou a momentos de 65% de posse de bola e também foi bem. Foi um jogo até parelho no primeiro tempo. Thiago se aproximava dos zagueiros e armava todo o jogo: conectava os dois laterais bem abertos para Gnabry ficar perto de Lewa, ou acionava com uma inversão Coman, que entrou para explorar Kehrer. Muito desse espaço que Thiago tinha vinha da falta de pressão de Neymar. Tudo planejado: ele não voltava para o contra-ataque.

Thiago foi o grande armador do jogo — Foto: Reprodução/Léo Miranda

Você é o treinador: quinze minutos de intervalo, sete para tomar água e sete para arrumar o time. Reta final do maior título da carreira. E aí, o que você muda? Onde tá o caminho da vitória?

Só uma equipe com total controle dos detalhes do jogo conseguiria achar uma solução


O Bayern voltou igual, a não ser por uma mudança de posicionamento de Kimmich. Ele não ficava mais pelo lado. Passou a jogar mais por dentro, ao lado de Goretzka, com Gnabry aberto. São poucos metros mais por dentro, coisa de cinco a dez metros.
 
Bayern muda, e Kimmich vem jogar por dentro — Foto: Reprodução/Léo Miranda
 
dPode parecer simples, mas esse detalhe acabou com o PSG no segundo tempo. O Bayern conseguiu tornar sua posse muito mais eficiente e finalmente chegou ao gol. Sobrou fisicamente no segundo tempo. Só uma equipe com um controle tão grande do jogo, dos espaços e de seus jogadores conseguiria pensar em minúcias como:
  • Di María é conhecido por ser um jogador que oscila. Vai bem numa partida, mal em outra. Até dentro do mesmo jogo ele tem oscilação. Logo, explorar suas costas aumenta as chances de ter espaço.
  • Herrera tinha muita liberdade para conectar o trio da frente. Faltava um jogador entre Thiago e Muller, já que Goretzka avançava bastante.
  • A defesa do PSG estava bem fechada. Era preciso atrair um pouco eles para frente e não concentrar tantos jogadores entre as linhas.

O posicionamento de Kimmich foi a resposta para todos esses problemas. A jogada do gol nasce num passe magistral de Thiago. Uma interação entre a técnica dele e Kimmich, que por estar mais perto era uma opção melhor do que os lançamentos do primeiro tempo. Esse passe quebra totalmente Ney, Mbappé e Di María e tira deles a oportunidade de defender: ficam para trás...lembra que eles não voltavam?
 
Kimmich recebe passe fenomenal de Thiago — Foto: Reprodução/Léo Miranda
 
Kimmich recebe, toca para Gnabry e não avança. Pode parecer sem importância, mas fez toda a diferença. Ao não ir para a área, ele se torna uma opção de segurança ao time. Caso algo não dê certo, ele está lá para receber a bola ou fazer uma falta. Ele também tem mais espaço e tempo para ler mais opções de jogo.
 
Qual é o melhor caminho para o objetivo final?
  • Gnabry e Muller estão cercados por três do PSG, então teriam dificuldades
  • Goretzka está entrando na área, mas o ângulo para chutar é muito pequeno
  • Coman e Lewandowski estão no mesmo setor de Kehrer. É dois contra um, o melhor caminho.

Então Kimmich ajeita seu corpo e faz um cruzamento colocado para que ninguém consiga chegar lá e tirar a superioridade numérica do Bayern no lance. Gol.
 
Kimmich dá a assistência — Foto: Reprodução/Léo Miranda
 
Quantos detalhes como esse não acontecem ao longo de noventa minutos? Há estudos que dizem que jogadores de futebol tomam mais de 3.000 decisões por jogo. Decisões complexas: como ajeitar o corpo? Para quem passar? Quem devo marcar? São mais de 60 mil decisões a cada jogo.
Faz mais sentido formar jogadores adaptáveis e inteligentes, capazes de escolher as decisões mais objetivas dentro do imenso leque de oportunidades a cada jogada, do que formar um especialista numa só posição ou alguém que só faz duas ou três posições.
Esse título é da inteligência. Da adaptabilidade.
 
Da escola alemã de futebol que percebeu, ainda em 2015, que o futebol caminhava para o domínio da tática individual, e não para a formação de times com uma ideia fixa de jogo. Kimmich é dessa formação, assim como Goretzka, Gnabry, Davies, Muller e tantos outros. Jogadores mutantes que fazem o que o jogo pede. É ataque? Então eles são ofensivos. É defesa? Então eles viram defensores.
 
Müller comemora a conquista da Liga dos Campeões — Foto: Getty Images
Um paradigma que mexe com a noção do que é individualidade e o que é coletivo. Um depende do outra. Jogar futebol é controlar emoções (psicológico) para fazer movimentos (físico) e colocar o corpo em algumas posições (técnica) de forma a gerir um determinado espaço dentro de campo (tática). Tática, técnica, físico e emocional se conversam entre si. Não se separam.
Tática não é um "sistema rígido" que "prende os jogadores", não é "esquema tático do treinador". Tática é a ferramenta para entender como os espaços em campo são ocupados. Técnica é a ferramenta para entender o movimento dos jogadores. O Bayern não tem um esquema tático, nem tem um modelo de jogo. Ele só se adapta. Justamente o que faltou ao PSG, tão refém de uma estratégia e sem um plano ou poder de leitura para sair daquilo.
No fim, ganhou o melhor conjunto. Ou melhor: o time que controlou os detalhes mais pequenos, mas extremamente fundamentais que fazem girar esse negócio tão doido no qual todo mundo joga, e no fim, os alemães vencem como o Bayern de Munique venceu sua sexta Liga dos Campeões.
 
Globo Esporte
 
 

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