A Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) afrouxou as regras contra racismo da Fifa em seus regulamentos, e tem sistematicamente ignorado ou minimizado casos de discriminação em seus campeonatos. A ofensa do jogador uruguaio Cristian González contra o meia Elias, do Corinthians, é apenas mais um episódio varrido para debaixo do tapete.
Lembremos: o corintiano foi chamado de macaco duas vezes no campo. O clube alvinegro pediu que as ofensas fossem registradas na súmula. O árbitro Diego Haro disse que não incluiria o fato no documento porque não ouviu. Já o delegado do jogo e secretário-geral da Conmebol, Francisco Britez, afirmou que macaco não é racismo em alguns lugares da América do Sul.
De fato, há um lugar no continente em que ser chamado de macaco não é discriminação: nos jogos geridos pela Conmebol.
A entidade até incluiu em seu regulamento disciplinar o artigo 12 cm punições para casos de racismo. Jogadores devem levar suspensão de pelo menos cinco jogos, e dirigentes ou técnicos pegos podem pagar pelo menos US$ 3 mil (R$ 10 mil). Manifestações de torcidas podem gerar multas, e depois, teoricamente, deduções de pontos e expulsão a critério da confederação.
Parece que a Conmebol quer combater o racismo. Mas é só para inglês ver mesmo. Esses artigos foram incluídos porque eram obrigatórios por novo regulamento da Fifa. Ali, está prevista a pena de cinco jogos para jogadores.
O texto da federação internacional, no entanto, é muito mais duro. Suas multas mínimas são 20 mil francos suíços (R$ 65 mil) por casos de torcida e 30 mil francos suíços (R$ 100 mil) no caso de dirigentes ou técnicos. O texto deixa claro que episódios graves de racismo devem ser punidos com perda de pontos à queda de divisão.
Quando a torcida do Real Garcilaço imitou macacos para o o cruzeirense Tinga, na Libertadores-2014, a Conmebol deu uma multa de menos de R$ 40 mil apesar de pressão do governo brasileiro. Neste início de ano, jogadores brasileiros sub-20 foram seguidamente ofendidos como macacos por rivais e pelo público na competição sul-americana da categoria no Uruguai,
O que a Conmebol fez? Mandou colocar uma nota no site dizendo que tem forte posição contra o racismo e os times tiveram de entrar com uma faixa contra o discriminação. Pronto, problema resolvido na visão dos cartolas sul-americanos.
A confederação sul-americana ainda ignora norma da Fifa que prevê um especialista em discriminação em cada jogo de competição para observar se houve problemas. Isso poderia evitar a constrangedora posição de Britez ao dizer que chamar alguém de macaco não é racismo.
É preciso reconhecer que a própria federação internacional faz pouco caso da sua lei. Na Copa-2014, supostos atos de racismo e homofobia foram ignorados pela entidade com alegações frouxas, a ponto de a comissão anti-racismo da entidade ter ficado contrariada. Mas não nos preocupemos: nas próximas competições haverá novas faixas contra a discriminação.
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